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Marieta comemora reconhecimento em A Grande Família
Foto: Luiza Dantas/Carta Z Notícias

Sábado, 21 de abril de 2001, 16h00

Marieta Severo bem que tentou lembrar a última novela em que interpretou uma dona-de-casa suburbana na tevê, mas foi em vão. Em 36 anos de carreira, a atriz se acostumou a encarnar na telinha mulheres chiques e ricas. Agora, ela enrolou as madeixas, usa chinelos de dedo e até aprendeu alguns passinhos de funk para ser a Dona Nenê de A Grande Família.

Marieta Severo não teve muito tempo para se despir da elegante Alma Flora de Laços de Família. Um dia depois da última cena da trama de Manoel Carlos, ela já estava com o texto do seriado nas mãos. "Tenho essa coisa da clareza. Quando eu pressinto que o projeto é bom, não recuso. Mesmo que tenha de emendar um trabalho no outro", explica.

Seria um exagero, porém, dizer que Marieta Severo é uma atriz de poucos papéis. Ela já interpretou os mais diversos tipos - como a feminista Madeleine Boichet, na trama Que Rei Sou Eu?, de Cassiano Gabus Mendes, ou a poderosa Catarine em Vereda Tropical. Porém, se está fazendo uma vilã ou uma suburbana, para ela pouco importa. A atriz garante que o essencial é a qualidade do trabalho. "Se eu ganho um bom personagem num contexto que não me agrada, prefiro não fazer", comenta.

Em 1994, por exemplo, recusou um papel de protagonista na novela Pedra sobre Pedra, de Aguinaldo Silva, para fazer o filme Carlota Joaquina, a Princesa do Brasil, de Carla Carmurati.

Embora tenha sido casada por mais de 20 anos com o cantor e compositor Chico Buarque, Marieta jura que pensa em Marco Nanini quando o assunto é casamento. Em A Grande Família, os dois revivem o papel de marido e mulher. Na Globo, trabalharam em vários episódios da série A Comédia da Vida Privada e, no teatro, também fizeram par em Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?, de Edward Albee, dirigida e adaptada por João Falcão. "Trabalhar em 'A Grande Família' é divertido. Além da intimidade entre os atores, o núcleo é pequeno e o clima fica mais familiar", garante.

Estrela de três lados

Aos 54 anos e 36 de carreira, Marieta Severo exibe um currículo muito bem dividido entre teatro, cinema e tevê. Mas seguindo um caminho pouco comum para atores no Brasil, que costumam ter a primeira chance no teatro, Marieta começou pelo cinema. Foi em 1965, aos 18 anos, no filme Society em Baby-Doll, de Luiz Carlos Maciel e Waldemar Lima. A partir daí não parou mais. Alguns filmes foram marcantes para o cinema nacional. Caso de Bye Bye Brasil, dirigido por Cacá Diegues em 1979, de Carlota Joaquina, A Princesa do Brasil, de Carla Carmurati, feito em 1995, e de Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende, em 1997. Sua mais recente participação nas telas foi interpretando a bruxa Losângela, no infantil Castelo Rá-tim-bum, de Cao Hamburger.

Agora começou a filmar As Três Marias, de Aluízio Abranches. A atriz está gravando no sertão pernambucano uma viúva que decide vingar a morte do marido. "A Filomena é mãe de três filhas e dona de um rebanho de cabras", explica.

Na tevê, a atriz se destacou em Vereda Tropical, de Carlos Lombardi, e Champagne, de Cassiano Gabus Mendes "Confesso que sinto muito orgulho quando começo a lembrar de tudo que fiz, mas ainda tenho muito o que fazer e aprender", garante a atriz. No teatro, os espetáculos de maior destaque foram Ópera do Malandro e Os Saltimbancos, adaptados da obra de Chico Buarque, e a A Dona da História, de João Falcão. Agora recebeu um convite para fazer a peça A Comédia dos Outros, de Pedro Cardoso. "Não consigo ficar muito tempo longe do teatro", admite.

Marieta Severo admite que está numa fase totalmente voltada para o trabalho. "Não tenho tempo para nada", resume. Embora tenha jurado não fazer mais teatro e tevê ao mesmo tempo, não cumpriu a promessa. Ano passado, estava em cartaz com a peça Quem Tem Medo de Virgínia Woolf? e com a novela "Laços de Família" ao mesmo tempo. Contudo ela diz que consegue conciliar o trabalho e o lazer. "Sou muito organizada e hoje não tenho mais aquela culpa feminina de não estar dando atenção em casa. Minhas filhas já estão criadas", justifica.

Metamorfose necessária

Marieta Severo não chegou a acompanhar com atenção a primeira versão de A Grande Família, de 1973, em que Eloísa Mafalda fazia Dona Nenê. E embora tenha chegado a ver alguns episódios da velha série, hoje acha até bom que tenha sido assim. "Procurei me fixar o menos possível na Nenê daquela época. Me baseei na cara do programa e na linguagem usada na atual versão", garante a atriz. Para ela, o ator é como um "banco de dados", que assimila jeitos com facilidade. "Trabalho as emoções, os sentimentos e as características psicológicas do personagem. Ele vai surgindo aos poucos", teoriza.

O que mais deixou a atriz admirada ao ver recentemente a primeira versão foi constatar como era diferente fazer tevê naquela época. "Houve um enorme progresso na narrativa", compara. Da nova versão de Guel Arraes, Marieta acredita que está havendo uma grande repercussão. "Muita gente já está me parando na rua para falar da Nenê", conta.

O reconhecimento do público, aliás, é uma das grandes satisfações para Marieta Severo. "Me divirto quando as pessoas se aproximam de mim para elogiar o meu trabalho", confessa. Embora A Grande Família seja um programa semanal, Marieta acredita que a Dona Nenê está conquistando, aos poucos, o telespectador. "É engraçado que devagar as pessoas vão esquecendo a Alma e já me abordam na rua para falar da Nenê", enfatiza.

Veja também:
» Para Marieta Severo, assédio não é problema

Flávia Kyrillos
TV Press


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